TV SERRA PRESIDENTE
afiliada da Rede Globo
Senado debate empréstimos à mídia
BNDES abre discussão sobre liberação de 4 bilhões de reais. Globo, que deve
5,6 bilhões de reais, é favorável
Por Rodrigo Rodrigues
BRASÍLIA - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
levou ao Congresso Nacional o debate sobre a abertura de linhas de crédito
para veículos de comunicação. O assunto é de extremo interesse das
Organizações Globo, que acumula dívida total de R$ 5,6 bilhões - 56% da
dívida da mídia brasileira que, segundo o vice-presidente do BNDES, Darc
Costa, chega a R$ 10 bilhões.
Segundo o projeto inicial, o Banco disponibilizaria três modelos de
crédito: para investimento, para compra de matéria-prima e pagamento de
dívidas. O total a ser liberado ficaria em torno de R$ 4 bilhões, o que não
quitaria a dívida da empresa da família Marinho.
Durante a audiência pública realizada na Comissão de Educação do Senado, os
presidentes da Rede Record, Dennis Munhoz; do SBT, Luiz Sandoval; e o
vice-presidente da Rede TV, Marcelo de Carvalho, se mostraram contrários à
liberação de verbas públicas para o pagamento de dívidas.
Darc Costa admitiu que poderá ser complicada a operação de empréstimos para
quitação de dívidas, que está sendo chamada de "linha de crédito para
reestruturação". "Quanto à reestruturação, nós ainda estamos discutindo,
mas terá um custo mais caro do que as operações de investimento", declarou.
O presidente da Rede Record, Dennis Munhoz, disse que liberar empréstimos
deste tipo é o mesmo que "enterrar dinheiro público", pois o uso de verba
pública para quitar dívidas privadas não gera empregos nem promove
desenvolvimento.
O Tribunal de Contas da União (TCU) já havia divulgado acórdão criticando a
operação realizada entre o BNDES e a Globocabo, quando o banco assumiu
participação na empresa, investindo para cobrir suas dívidas, porém, sem
exigir benefícios próprios.
Saiba por que a Globo endividou-se
Um dos maiores grupos de comunicação mundial acumula dívida de 2 bilhões de
dólares e
um histórico de 39 anos de crise
RIO DE JANEIRO - Embora intrigante, pois estamos falando do endividamento
de um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo - as Organizações
Globo -, a resposta para sua crise não é difícil de ser explicada. Sempre
incansável na busca pelo monopólio da audiência, a empresa nunca mediu as
conseqüências para alcançar seu objetivo.
O QUE É MONOPÓLIO?
De acordo com o dicionário Aurélio, monopólio é o controle exclusivo de uma
atividade,
atribuído a determinada empresa ou entidade.
Para se ter uma idéia, a empresa, hoje, é detentora de 80% da fatia do
mercado publicitário, ou seja, 80% da propaganda de toda a TV aberta no
País são destinados à Rede Globo. As outras emissoras ficam com o restante.
"Enquanto a Globo mantém essa percentagem no mercado publicitário, o
governo ainda se preocupa em pagar a dívida dela", discorda o presidente da
Record, Dennis Munhoz. O presidente se refere ao possível financiamento a
ser liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), para o pagamento da dívida particular da Globo.
Dívida alíás, que chega a R$ 5,6 bi, referente à Globopar (Globo
Comunicações e Participações, a holding da organização). Segundo dados do
BNDES e da execução na Vara de Falências em Nova Iorque, nos Estados
Unidos, a empresa enfrenta a pior crise em seus 39 anos.
Estratégia maldosa
A Rede Globo paga um preço muito alto para obter exclusividade na
transmissão dos eventos mais importantes do Brasil e do mundo. Em 2002, a
Globo amargou um prejuízo de cerca de US$ 100 milhões com a Copa da Coréia
e Japão, e, apesar disso, a emissora iniciou, na mesma época, a
renegociação com a Fifa os direitos do Mundial de 2006, na Alemanha, pelo
qual tem contrato de exclusividade, assinado em 1998, se comprometendo a
pagar US$ 240 milhões. A TV Globo compra também a exclusividade nas
transmissões do Carnaval, campeonato brasileiro de futebol, jogos
panamericanos e tudo quanto puder, independente do preço, para impedir que
a concorrência possa transmiti-los.
Outro motivo que ajuda a piorar a crise financeira da empresa são os altos
salários pagos a alguns artistas. A Globo não permite que outras emissoras
possuam programas que superem seus índices de audiência e, para isso,
oferece salários altíssimos a alguns de seus contratados. Aconteceu com Ana
Maria Braga, Serginho Groisman, Luciano Huck, Jô Soares e outros. Aqueles
que não podem ser colocados imediatamente no ar, são postos na "geladeira"
para depois serem usados em programas nem sempre atraentes.
A GloboCabo também é responsável pelo aumento da dívida do grupo. Em 2001,
a dívida era de um bilhão e 600 mil reais, com uma rolagem de 500 milhões
por ano. O sistema GloboCabo tem capacidade para seis milhões de
assinantes, porém, registra apenas um milhão e 500 mil pagantes. Já em
2002, o prejuízo ultrapassou os 600 milhões de reais.
A Globopar, holding das Organizações Globo para a área de televisão a cabo
e novas tecnologias, registrou prejuízo de R$ 1,935 bilhão nos primeiros
seis meses do ano de 2002, segundo o balanço da empresa apresentado no site
(www.globopar.com). Isso representa aumento de quase cinco vezes em relação
aos R$ 400,4 milhões observados em igual período do ano passado (383,28%).
Tudo pelo ibope
Sexo, sensualidade, incentivo à traição, são apenas alguns dos artifícios
utilizados pela "Vênus Platinada" na busca desenfreada pela atenção dos
telespectadores. Haja o que houver, a Globo tem de estar em primeiro lugar.
"Sem querer ser puritano, a Globo tem uma programação bastante apelativa. É
o caso do Big Brother Brasil. Como pode um canal de TV gastar tanta energia
com isso?", indaga o advogado Tarcísio Adauto Ferreira, de 55 anos.
Outra telespectadora que discorda do tipo de programação é a taxista Rose
Aparecida do Nascimento Braz, de 37 anos. "Pegam pesado às vezes. Exageram
em matéria de sexo e violência, principalmente em algumas minisséries. Tudo
bem, dizem que reproduz a realidade; mas nem sempre agrada a algumas
pessoas. Apesar de ser realidade, a violência não agrada."
No entanto, mais do que insatisfação por parte de alguns telespectadores e
uma dívida impossível de ser paga com recursos próprios, a Globo não
contava com as emissoras concorrentes. Atualmente, as Redes Record, Rede
TV, e SBT têm conseguido incomodar as Organizações Globo.
Seria Justo o Governo "empres-dar" dinheiro à Globo através do BNDES?
Essa atitude tem causado uma revolta na população brasileira, iludida pela
promessa do "espetáculo do crescimento" que só pode ser visto com lente de
aumento.
Com o valor que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) promete repassar às empresas de comunicação, muita coisa poderia
ser feita. Na saúde, por exemplo, seria possível comprar 35 mil ambulâncias
de mais de R$ 100 mil cada. Na educação, poderiam ser construídos 294 CEUs
(Centros Educacionais Unificados) da prefeitura de São Paulo, por R$ 17
milhões cada um. Na Segurança, daria para comprar 250 mil viaturas a R$ 20
mil cada uma para equipar melhor a nossa polícia.
Globo deve 2 bilhões de dólares
Rede Globo lidera o ranking dos veículos de comunicação devedores.
Credores americanos pedem falência da Globopar nos EUA
A mídia nacional brasileira acumula atualmente uma dívida de R$ 10 bilhões,
na qual 56% pertencem à Globopar (Globo Comunicações e Participações,
holding das Organizações Globo), segundo relatório apresentado pelo setor
ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Só no ano
de 2002, estima-se que o prejuízo nas empresas de comunicação no Brasil
tenha alcançado a casa dos R$ 7 bilhões. De acordo com dados do Ministério
do Trabalho, rádios, TVs, jornais, revistas e agências de notícias foram
obrigadas a demitir pelo menos 17 mil empregados.
O diretor de Planejamento das Organizações Globo, Jorge Nóbrega, afirmou
que a Globopar tem uma dívida total de US$ 1,9 bilhão desde 2002, quando
deixou de pagar parcialmente os débitos. Com o atraso nos pagamentos, todas
as dívidas ficaram sujeitas ao resgate imediato.
Além das dívidas acumuladas pela Globo no Brasil, o grupo tem enfrentado
semelhante situação nos Estados Unidos. O fundo de investimento
norte-americano Huff, credor da companhia, moveu processo contra a Rede
Globo solicitando renegociação judicial de uma dívida vencida da Globopar
no valor de US$ 94,3 milhões. Devido à dívida, o Huff decidiu entrar na
Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York em dezembro de 2003.
O fundo de investimento Huff (o Foundations For Research, credor de US$ 175
mil) é apenas um grupo dos três credores que entrraram com um pedido de
falência involuntária da Globopar (Globo Comunicações e Participações). Os
outros fundos são o GMAM Investment Funds Trust I (que se diz credor de US$
30,5 milhões da Globo), o WRH Global Securities Pooled Trust (US$ 63,6
milhões).
Além da Globo, outras mídias também enfrentam momentos difíceis, como é o
caso da mídia impressa, também afetada pela crise entre 2000 e 2002.
Enquanto a circulação de revistas caiu de 17,1 milhões para 16,2 milhões de
exemplares/ano, a de jornais caiu de 7,9 milhões de exemplares/dia para 7
milhões. Os investimentos publicitários - divididos entre todas as empresas
de mídia - diminuíram de R$ 9,8 bilhões em 2000 para R$ 9,6 bilhões em 2002
(em valores sem correção).
A maior parte das dívidas das empresas de comunicação se deve ao fato de as
empresas apostarem no crescimento da economia e na estabilidade do câmbio,
na segunda metade dos anos 90. Com isso, acabaram se endividando em dólar
para tentar aumentar a capacidade de produção.
De acordo com relatório apresentado pelo setor ao BNDES em outubro de 2003,
80% das dívidas são em dólar, e 83,5% têm vencimento em curto prazo.
Record, Rede TV e SBT são contra liberação de empréstimo
pelo BNDES para a Globo
Dennis Munhoz, presidente da Rede Record, não acha justo contribuinte pagar
pela dívida
RIO - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Carlos Lessa, esteve reunido com os representantes das Redes
Record, Dennis Munhoz, da Rede TV, Amilcare Dallevo Júnior e do SBT, Luiz
Sandoval, para discutir o possível financiamento, a ser liberado pelo
BNDES, para o pagamento da dívida da Globo.
Através de um documento, os representantes das três empresas de comunicação
manifestaram, formalmente, serem contrários ao uso da verba para o
pagamento da dívida do grupo. O diretor de Planejamento das Organizações
Globo, Jorge Nóbrega, afirmou que a Globopar - holding das Organizações
Globo- tem uma dívida total de US$ 1,9 bilhão desde 2002, quando deixou de
pagar parcialmente os débitos.
Na opinião de Munhoz, o projeto apresentado ao BNDES por empresas de
comunicação foi feito de uma forma errada. "Apresentaram uma proposta de
investimento e falência de dívidas, sendo que muitos associados não tinham
conhecimento. A própria Record não tinha conhecimento." Ao ter acesso à
informação, a Record pediu um esclarecimento à Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). "Nós (Record) já nos posicionamos
contra o pagamento desta dívida. Infelizmente, a proposta foi mantida e
esse foi um dos motivos de nossa renúncia da Abert", explica Munhoz.
O presidente da Record entende que o uso de verba do BNDES deve ser usado
para investimentos. "É importante que o BNDES tenha linhas de crédito para
as TVs, mas para crescimento, investimento e geração de empregos. Acho
muito injusto e incoerente porque é o dinheiro do imposto do contribuinte
que deveria ser destinado para o crescimento e não para pagar dívidas. A
Globo criou essa dívida enorme devido a problemas dela e não pode ficar
isenta", opina.
Durante o encontro, o presidente do BNDES garantiu que a orientação do
governo é que o assunto passe por um amplo debate nacional. Não há, até o
momento, um prazo para a tomada de decisão por parte do BNDES. "Acho que o
mais importante é que se coloque o assunto em discussão e que fique bem
claro qual o destino do dinheiro do contribuinte. Num País onde se paga
tanto imposto e falta dinheiro para educação, saúde e segurança pública,
não é justo que o contribuinte pague este tipo de dívida", conclui.
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